Lula em cúpula virtual com líderes mundiais: “Negar a crise climática não vai fazê-la desaparecer”

Com o olhar voltado para a importância estratégica da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que será realizada em novembro, no Brasil (COP30), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o secretário-geral da ONU, António Guterres, conduziram nesta quarta-feira (23) a Cúpula Virtual sobre Ambição Climática. 

No Brasil, quando queremos mobilizar esforços em torno de um objetivo comum, utilizamos uma palavra de origem indígena chamada “mutirão”. Queremos fazer da COP30 um grande mutirão em prol da implementação dos compromissos climáticos”

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República

A reunião contou com 17 participantes em nível de chefes de Estado e de governo, representando algumas das maiores economias do mundo, incluindo China e União Europeia, além de alguns dos países mais vulneráveis à mudança do clima. Também estiveram líderes que presidem parcerias regionais, como a União Africana, a ASEAN, a Aliança dos Pequenos Estados Insulares e a CARICOM.

Em seu discurso, Lula fez um chamado à necessidade de ação imediata de todos para que o planeta evite o ponto de “não retorno” na mitigação de efeitos da mudança do clima. O presidente enfatizou que o mundo está “farto de promessas não cumpridas” e convidou todos a um mutirão em prol de compromissos climáticos ambiciosos. A ideia é uma mobilização global para acelerar uma transição justa, inclusiva e sustentável. 

» Íntegra do discurso do presidente Lula

“Negar a crise climática não vai fazê-la desaparecer. Precisamos assegurar que o multilateralismo e a cooperação internacional sigam como pedra angular da resposta global à mudança do clima. No Brasil, quando queremos mobilizar esforços em torno de um objetivo comum, utilizamos uma palavra de origem indígena chamada “mutirão”. Queremos fazer da COP30 um grande mutirão em prol da implementação dos compromissos climáticos”, afirmou o presidente Lula.

O presidente Lula e o secretário-geral da ONU, António Guterres, durante a cúpula: momento de agir é agora Foto: Ricardo Stuckert / PR
O presidente Lula e o secretário-geral da ONU, António Guterres, durante a cúpula: momento de agir é agora Foto: Ricardo Stuckert / PR

NDCS – Entre esses compromissos cobrados está a atualização das chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), com as metas de redução de emissões de até 2035. “O Brasil apresentou sua NDC na COP de Baku. Prevemos redução de 59% a 67% de emissões, abrangendo todos os gases de efeito estufa e todos os setores da economia. Internamente, estamos formulando um Plano Clima que contemplará estratégias de mitigação, adaptação e justiça climática. Não se pode falar em transição justa sem incorporar a perspectiva de setores historicamente marginalizados, como mulheres, negros e indígenas, e sem considerar as circunstâncias do Sul Global”, enfatizou o presidente brasileiro. Até agora, cerca de 10% dos membros da Convenção da ONU sobre Mudança Climática apresentaram suas contribuições. 

BALANÇO ÉTICO – O presidente também anunciou a iniciativa do balanço ético global, que integra a parceria com o secretário-geral da ONU rumo à COP30. “Nessa vertente, um foco de mobilização política, o Brasil e a ONU convocarão ao longo do ano uma série de eventos voltados ao engajamento de lideranças jovens e religiosas, artistas, povos originários, cientistas, tomadores de decisão em torno de um novo pacto ambiental para o planeta”, explicou o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores), num pronunciamento à imprensa após o evento.

ALIANÇA E FUNDO – A ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima), que também conversou com os jornalistas, lembrou que o presidente Lula enfatizou ainda a importância da Aliança Global contra a Fome e Pobreza, lançada na Cúpula do G20 realizada no Brasil no ano passado, e a questão do Fundo Floresta Tropical para Sempre, iniciativa que o Brasil quer que esteja operacional na COP30, que pretende remunerar os países em desenvolvimento que preservam suas florestas.

IMPLEMENTAÇÃO – “O presidente Lula também fez um apelo de que a COP30 deva ser a COP da implementação dos acordos até aqui alcançados, sobretudo aqueles que advêm do balanço global que antecederam as COPs, tanto de Dubai quanto de Baku, em relação a duplicar eficiência energética, se afastar do uso de combustível fóssil e o fim do desmatamento, além do necessário financiamento climático, tudo isso alinhado à missão de não ultrapassar 1,5ºC de temperatura da Terra”, listou Marina Silva.

Os países desenvolvidos devem honrar sua promessa de dobrar o financiamento para adaptação para pelo menos US$ 40 bilhões por ano até este ano. E precisamos de contribuições significativamente maiores e fontes inovadoras de financiamento para apoiar os fundos de resposta a perdas e danos”

António Guterres, secretário-geral da ONU

TRANSIÇÃO – Em fala à imprensa na sede da ONU, em Nova Iorque, após o evento, o secretário-geral da entidade enfatizou que os investimentos sustentáveis se tornaram economicamente mais atrativos e citou a necessidade da eliminação gradativa do uso de combustíveis fósseis. António Guterres lembrou que os efeitos da mudança do clima atingem de forma diferente as nações, impactam na ampliação da pobreza, na geração de desemprego e no crescimento de conflitos, e lembrou que os países mais desenvolvidos têm uma responsabilidade histórica em relação ao financiamento dos investimentos na transição energética. 

EFEITOS – “Aqueles menos responsáveis pelas mudanças climáticas estão sofrendo seus piores efeitos. A África e outras partes do mundo em desenvolvimento estão experimentando um aquecimento mais rápido e as ilhas do Pacífico estão vendo uma elevação do nível do mar mais rápida. Enquanto isso, apesar de abrigar 60% dos melhores recursos solares do mundo, a África tem apenas cerca de 1,5% da capacidade solar instalada e recebe apenas 2% do investimento global em energias renováveis. Precisamos mudar isso rapidamente”, afirmou o secretário-geral da ONU.

ROTEIRO CRÍVEL – Para Guterres, na COP30, os líderes mundiais devem apresentar um roteiro crível para mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano para os países em desenvolvimento até 2035. “Os países desenvolvidos devem honrar sua promessa de dobrar o financiamento para adaptação para pelo menos US$ 40 bilhões por ano até este ano. E precisamos de contribuições significativamente maiores e fontes inovadoras de financiamento para apoiar os fundos de resposta a perdas e danos”, completou Guterres. 

PREPARAÇÃO – A cúpula desta quarta-feira foi a primeira do ano com esta magnitude. Entre os líderes presentes estiveram o presidente da China, Xi Jinping, o presidente do Conselho da União Europeia, António Costa, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o primeiro-ministro e presidente do governo da Espanha, Pedro Sanchez, e o presidente da França, Emmanuel Macron. Também estiveram presentes líderes de países como Angola, Malásia, Nigéria, Turquia, Chile, Vietnã, Ilhas Marshall e Tanzânia. Outros encontros para tratar da COP30 e os compromissos climáticos devem ocorrer até a data da Conferência, que ocorre entre 10 e 21 de novembro, em Belém, no Pará. 

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