A TV Brasil exibe a edição inédita do Caminhos da Reportagem com o título “Santa Dica, uma história não contada” nesta segunda-feira (12), às 23h. A atração jornalística da emissora pública revela quem é essa personagem histórica pouco conhecida dos brasileiros.
Benedicta Cypriano Gomes nasceu em 1925 em Lagolândia, distrito de Pirenópolis, em Goiás. Na história oral e em registros na imprensa, Dica aparece “como guerrilheira, como santa, como política e como mãe que acolhe”, nas palavras do historiador Ubirajara Bragança.
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Para explicar o papel marcante dessa mulher, a equipe do Caminhos da Reportagem esteve em Lagolândia em uma data especial: na comemoração dos 120 anos de Dica, em 13 de abril. A produção traz essa experiência para a telinha a partir de entrevistas com familiares, pesquisadores, historiadores e pessoas que já contaram ou desejam abordar a trajetória dela no cinema.
Relevância
O programa da TV Brasil mostra que Dica foi uma líder comunitária e marcou a história do pequeno povoado em Goiás. Diziam que ela fazia milagres, tinha poder de cura e recebia vozes de anjos, por isso a região em que vivia foi chamada de República dos Anjos.
A historiadora e memorialista Waldetes Aparecida Rezende enumera momentos em que Dica foi considerada morta. Esses acontecimentos fizeram com que Dica fosse considerada “santa”. Essa crença atraiu pessoas de vários lugares para o povoado e seus seguidores eram chamados de “diqueiros”.
O Caminhos da Reportagem também entrevista a filha de Dica.
“Isso aqui tudo era cheio de doente, cheio de gente que ela pegava na rua. Ela não podia ver uma pessoa abandonada na rua que trazia para cá”, relembra Dolores Mendes Cavalcante na casa em que a mãe viveu.
A neta Raquel de Jesus Cavalcante conviveu com a avó até os 16 anos.
“Ela estava falando outros idiomas, estava recebendo as entidades. Um dia eu falei pra ela: ‘Vó Dica, que língua é aquela que você estava conversando?’ E ela falou: ‘É a língua do além, minha filha'”, lembra.
Liderança religiosa
O historiador Ubirajara Bragança, que pesquisou sobre Santa Dica na sua tese de doutorado, explica que os movimentos messiânicos no Brasil aconteceram com a chegada da República, como Antônio Conselheiro liderando Canudos e Santa Dica em Lagolândia.
“No caso dela, me chama a atenção porque ela é mulher e, diferentemente de outros líderes carismáticos desse mesmo período, ela assume prerrogativas sacerdotais, batizando, crismando e realizando casamentos”, afirma.
Ubirajara relata ainda ter encontrado notícias em jornais franceses comparando Santa Dica à Joana d’Arc e dizendo que Getúlio Vargas devia a ela a revolução.
Cinema
Dica faleceu, aos 65 anos, em 1970, em Goiânia, mas foi sepultada em Lagolândia. Sua história já virou filme.
O cineasta uruguaio Carlos Del Pino mora no Brasil há 50 anos e se interessou pela vida de Dica. Ele dirigiu o longa-metragem A República dos Anjos (1991) e o documentário Santa Dica do Sertão (1989).
A produtora executiva de audiovisual Simonia Queiroz planeja um filme de ficção sobre Santa Dica.
“Há um interesse histórico por biografias, principalmente biografias femininas, de histórias que foram se apagando com o tempo ou não são contadas nos livros didáticos”, reforça.
Reconhecimento nacional
Para retomar a memória de Santa Dica, um grupo de jovens fundou há dois anos o Instituto Santa Dica. Segundo a presidente, Lucília Amaral, existe um plano de criar um memorial com obras sobre Dica.
A memorialista Waldetes Aparecida Rezende ressalta a necessidade de dedicar à Santa Dica a importância histórica que ela merece e as pessoas não conhecem.
“Reconhecer como personagem histórica incontestável tanto aqui do lugar quanto de Goiás e até do próprio Brasil”.
Ubirajara Bragança também defende que Dica é uma figura que precisa ser resgatada. “As fontes nos ajudam com uma aproximação histórica. A gente errar menos sobre ela. Então acredito que a pesquisa não está esgotada”, completa o estudioso.
Sobre o programa
No ar há mais de uma década, o Caminhos da Reportagem é uma das atrações jornalísticas mais premiadas não só do canal, como também da televisão brasileira. Para contar grandes histórias, os profissionais investigam assuntos variados e revelam os aspectos mais relevantes de cada assunto.
Exibido às segundas, às 23h, o Caminhos da Reportagem tem horário alternativo na madrugada para terça, às 4h30. A produção disponibiliza as edições especiais no site e no YouTube da emissora pública. As matérias anteriores também estão no aplicativo TV Brasil Play, disponível nas versões Android e iOS. .
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