O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou, em entrevista ao fim da agenda de compromissos na China, nesta quarta-feira, 14 de maio, a importância da viagem para ampliar as parcerias do governo brasileiro com o governo chinês e estimular investimentos privados entre os países. Brasil e China assinaram 20 acordos e adotaram outros 17 documentos para fortalecer a cooperação, pelos próximos 50 anos, em diversas áreas.
A nossa relação com a China é muito estratégica. A gente quer aprender e, também, atrair mais investimentos para o Brasil. A gente quer mais ferrovia, mais metrô, mais tecnologia. A gente quer inteligência artificial. A gente quer tudo o que eles possam compartilhar conosco. Porque a gente precisa aprender a trabalhar junto para que as coisas possam dar os frutos que nós precisamos
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
“A nossa relação com a China é muito estratégica. A gente quer aprender e, também, atrair mais investimentos para o Brasil. A gente quer mais ferrovia, mais metrô, mais tecnologia. A gente quer inteligência artificial. A gente quer tudo o que eles possam compartilhar conosco. E a palavra correta é ‘compartilhar’. Porque a gente precisa aprender a trabalhar junto para que as coisas possam dar os frutos que nós precisamos”, destacou Lula.
O presidente pontuou a importância da exportação de commodities brasileiras para a China e indicou o desejo de diversificar os tipos de produtos que são comercializados. “Nós também queremos trocar produtos com maior valor agregado e, por isso, queremos que os chineses nos ajudem a dar esse avanço no desenvolvimento tecnológico que precisamos. Aí entra a discussão da transição energética, da transição climática e a questão da inteligência artificial”, disse.
Esta é a quarta visita de Estado de Lula à China, a primeira a ocorrer desde a elevação das relações bilaterais ao patamar de “Comunidade de Futuro Compartilhado Brasil-China por um Mundo Mais Justo e um Planeta Mais Sustentável”, em novembro de 2024. Trata-se do terceiro encontro entre o líder brasileiro e o presidente da República Popular da China, Xi Jinping, desde 2023. “Eu acho que a China merece ser olhada com mais carinho e sem preconceito, porque a China é a novidade econômica e tecnológica do século XXI. É assim que nós temos que olhar a China, com muito apreço e com muito carinho. E é assim que eu acho que a China olha o Brasil”, assinalou Lula.
COMÉRCIO — O presidente brasileiro enfatizou o crescimento da relação comercial entre os dois países. “Em 2003, quando eu tomei posse na presidência da República, a gente tinha US$ 6,6 bilhões de fluxo de balança comercial. Hoje, temos o privilégio de dizer que nós temos US$ 160 bilhões, com viés de alta no nosso fluxo comercial”. Não é pouca coisa. Mas não estamos contentes com o resultado de US$ 160 bilhões ou com o superávit de US$ 31 bilhões que o Brasil tem no comércio com a China. Porque o comércio entre dois países tem que ser equilibrado”, afirmou. “Eu sempre disse que o comércio bom entre dois países é aquele que parece uma via de duas mãos: a gente compra e a gente vende, mais ou menos de forma igual, para que não haja um desbalanço muito grande no orçamento de cada país. E nós viemos aqui para isso”, completou Lula.
BRICS — Lula também abordou a relevância do BRICS, grupo de cooperação econômica e diplomática do qual Brasil e China fazem parte e cuja próxima cúpula será no Rio de Janeiro, nos próximos dias 6 e 7 de julho. “Ontem eu falei com o Xi Jinping: o BRICS é a possibilidade de a gente mudar um pouco a história para colocar os excluídos dentro do sistema político e econômico. Por isso que o BRICS é importante. E eu tenho certeza que nós vamos realizar no Brasil, no mês de julho, a melhor reunião do BRICS já feita desde que o bloco foi criado”, frisou.
PAZ — Ainda durante a coletiva, Lula celebrou a possibilidade de um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia. “É com muita alegria que, ao visitar a Rússia, a gente tenha encontrado oportunidade de conversar sobre a questão da paz. E é com muito otimismo que eu vi a aceitação da proposta do Putin [Vladimir Putin, presidente da Rússia] e Zelensky [Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia], e que o presidente Xi Jinping e eu colocamos o resultado disso em uma nota que divulgamos, parabenizando tanto a proposta do Putin quanto a aceitação dos Zelensky, na possibilidade de que eles se juntem em Istambul e possam começar, de verdade, ao invés de trocar tiros, trocar palavras”, declarou.
EMPRESAS — Na segunda-feira (12), o líder brasileiro teve uma agenda cheia de compromissos. Após Lula participar de quatro audiências com executivos de empresas chinesas ligadas aos setores de energia sustentável e defesa, foram anunciados investimentos de US$ 1 bilhão na produção de SAF (combustível renovável para aviação) por meio da Envision Group, e a criação de um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) em parceria entre a Windey Technology e o SENAI CIMATEC na área de energia renovável.
O presidente brasileiro também participou do encerramento do Fórum Empresarial Brasil-China. Na ocasião, o Brasil celebrou a atração de investimentos chineses, por meio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), na ordem de R$ 27 bilhões. Lula ainda se reuniu com representantes de empresas do setor de saúde. A agenda foi marcada pelo anúncio de acordos bilaterais voltados à criação de um centro de excelência em pesquisa e desenvolvimento de vacinas no Brasil e, ainda, a proposta de uma parceria estratégica para construir no Brasil uma plataforma industrial robusta de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs), além da assinatura de memorandos de entendimento na área de equipamentos de imagem (VMI).
CELAC — Na terça-feira (13), Lula e o presidente da República Popular da China, Xi Jinping, participaram da abertura do IV Fórum CELAC-China (FCC). Trata-se de uma plataforma de cooperação intergovernamental entre países em desenvolvimento, que serve de vetor de promoção dos interesses do Sul Global. O encontro insere-se na agenda externa da CELAC, que inclui, também, diálogos regulares com União Europeia, União Africana, Conselho de Cooperação do Golfo, Índia e Turquia. “O apoio chinês é decisivo para tirar do papel rodovias, ferrovias, portos e linhas de transmissão. Mas a viabilidade econômica desses projetos depende da capacidade de coordenação de nossos países para conferir a essas iniciativas escala regional”, ressaltou o presidente brasileiro no evento.
ACORDOS — Lula também participou da assinatura de atos conjuntos com Xi Jinping na terça-feira (13). Os países assinaram, no total, 20 acordos para alicerçar a cooperação pelos próximos 50 anos em diversas áreas. A declaração conjunta Brasil-China, a declaração conjunta sobre a crise na Ucrânia e outros 15 acordos, memorandos e protocolos também foram anunciados na cerimônia.
Um dos acordos firmados visa o estabelecimento conjunto de um Centro de Transferência de Tecnologia entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação da República Federativa do Brasil (MCTI) e o Ministério da Ciência e Tecnologia da República Popular da China. Foi celebrada, ainda durante a cerimônia, uma Declaração Conjunta de Intenções entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil e a Administração Espacial Nacional da China sobre o Compartilhamento de Dados Espaciais com os Países da América Latina e do Caribe.
Em declaração conjunta, Lula e Xi Jinping reiteraram o firme compromisso em dar seguimento à agenda de cooperação, de modo a impulsionar conjuntamente os processos de modernização do Brasil e da China, facilitar investimentos, promover a interconectividade regional e contribuir para o desenvolvimento sustentável.
SETOR PORTUÁRIO — Ainda no segundo dia da viagem à China, o ministro Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos) afirmou que empresas chinesas vão investir no setor portuário brasileiro e demonstraram interesse em participar do leilão do Túnel de Santos-Guarujá. Lula participou do lançamento do edital do túnel submerso e inédito na América Latina no final de fevereiro. “Serão investimentos na ordem de mais de R$ 6 bilhões. Essas empresas participarão do leilão no mês de agosto. Nos próximos 30 dias, um conjunto de empresas está indo ao Brasil para poder participar efetivamente da construção de consórcios”, declarou o ministro.
“Além disso, assinamos um conjunto de ações com o setor produtivo portuário, onde a gente espera investimentos de quase R$ 5 bilhões nos portos públicos brasileiros”, disse Silvio Costa Filho. Ele também confirmou a assinatura de um acordo de cooperação com a Universidade da Aviação Civil da China. A parceria permitirá a troca de experiências e buscará convergência na área de tecnologia para melhorar a governança dos aeroportos brasileiros.
INVESTIMENTO — A China figura entre as principais fontes de investimento estrangeiro direto no Brasil. Destacam-se os investimentos nos setores de eletricidade e de extração de petróleo, bem como de transportes, telecomunicações, serviços financeiros e indústria. Desde 2003, de acordo com o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), o Brasil foi o principal destino de investimentos chineses na América Latina (39% do total). O CEBC estima que, entre 2007 e 2023, os investimentos chineses no Brasil tenham chegado a US$ 73,3 bilhões, resultado de 264 projetos nas cinco regiões do país. Do total de investimentos chineses no Brasil destinados à indústria, destacam-se sobretudo a automotiva, eletroeletrônica e de máquinas e equipamentos. Os 93 projetos industriais e de tecnologia da informação equivalem a 36% do número total de empreendimentos chineses no Brasil.
RELACIONAMENTO — O relacionamento entre as duas nações vai além da esfera bilateral. Brasil e China têm mantido diálogo em mecanismos como BRICS, G20, OMC e BASIC (articulação entre Brasil, África do Sul, Índia e China na área do meio ambiente). Neste sentido, a visita de Lula permitiu que o presidente brasileiro e o presidente chinês, Xi Jinping, explorassem sinergias entre suas políticas de desenvolvimento e programas de investimento e estreitassem a coordenação sobre tópicos regionais e multilaterais – inclusive em relação ao G20, ao BRICS e às conferências das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP), que neste ano será realizada em Belém (PA), em novembro.